Afinal, quem é realmente
ídolo?
No jurássico
ano de 1968 recebi pauta no Jornal da Tarde para responder à pergunta do
título.
Afinal, todo
craque é ídolo? Todo ídolo é craque?
Passei dias
e dias conversando com jogadores de futebol, técnicos, dirigentes para chegar
quase que a lugar nenhum.
A pauta era
pretensiosa, mas a pergunta muito difícil de ser respondida.
Naqueles
dias estava sendo desfeita respeitável dupla de meio-campo do Corinthians.
Desfeita pela ação do tempo: um era muito novo e outro já velho para o futebol.
Rivellino e
Dino Sani.
Jogaram
juntos e poderiam ter formado histórica dupla, não fosse a diferença de idade.
Dino Sani
era clássico, combativo, enérgico, batalhador. Rivellino era craque, simples
assim.
Dino
pendurou as chuteiras e abraçou o cargo de técnico do Corinthians, numa época
ruim.
O Timão não
vencia o Santos há cerca de 10 anos, tempo também em que não conquistava o
título de campeão paulista (o último havia sido em 1954).
Fui
conversar com Dino Sani que era o rei do lugar comum. Era duro entrevistar o
calado Dino Sani. Quando perguntávamos sobre um jogo passado ou futuro, ele
invariavelmente vinha com essa resposta:
- No futebol
só uma coisa é possível acontecer: vencer, empatar ou perder.
Pois foi com
Dino Sani que eu ouvi a melhor definição sobre o ídolo do futebol. Saindo da
mesmice costumeira, ele ensinou:
- Ídolo é
aquele que pode vestir a camisa de qualquer time. Qualquer torcedor quer vê-lo
vestindo a camisa de seu time. Ele está acima do ódio ou da bronca do torcedor.
Acho que
melhor definição, não há.
Eu diria
também que o ídolo não tem idade.
Aí estão
Gabriel Jesus e Ademir da Guia para confirmar o que eu digo.
Todos os times têm seus jogadores famosos, alguns bons de
bola, outros, poucos, que se tornam ídolos.
Outra particularidade
é que o ídolo também pode ser apenas pessoal.
Meu grande
ídolo no futebol foi o camisa 10 do América MG, Zuca, que no final dos anos
1950 deixou o meu time foi defender as cores do Newells Old Boys, da Argentina.
Quem se lembra de Zuca?
Vários corintianos surgiram com ídolos, de Neco nos anos 20, passando por
Baltazar, Rivellino, Sócrates, Neto (ídolo ou xodó?), Casagrande, Basílio,
Vladmir.
Quem é o
ídolo atual dos corintianos?
Os palmeirenses reverenciaram Junqueira, de priscas eras, a Oberdan, Julinho,
Admir da Guia, o incontestável Marcos (Leão foi craque, mas foi ídolo?), Evair,
Leivinha, Luís Pereira.
Os são-paulinos tiveram Poy, Bauer (o Monstro do Maracanã), Leônidas, Dario
Pereyra, Oscar, Belline, Pedro Rocha (Zizinho, o Pelé dos anos 40-50 foi um
craque, mas chegou a ser ídolo da torcida tricolor?). Mais do que ídolo, a
torcida do Tricolor já transformou Rogério Ceni em Mito.
No Santos, vamos deixar Pelé de lado. Araken Patuska, Mengálvio, Coiutinho, Pepe,
o líder Zico, o capitão Carlos Alberto, Robinho, Neymar e esses garotos que
brotam no santos como tiririca no gramado.
Do Flamengo eu me lembro logo de Dequinha que foi meu ídolo quando, garoto, morei no
Rio de Janeiro. O maior de todos, claro, foi Zico. Mas os flamenguistas não se
esquecem de Adílio, Andrade, Júnior Pektovick...
Falar em Fluminense, fala-se no grande goleiro Castilho. Mas, os pó-de-arroz lembram-se
saudosos de Preguinho que, além do futebol, disputava também outras sete
modalidades esportivas. O vigoroso zagueiro Pinheiro; Telê Santana, o ponta
direita magrinho apelidado de Fio de Esperança; Renato Gaúcho.
O Botafogo quase merece uma edição especial. Para começar, o irrequieto Heleno de
Freitas; o rápido Quarentinha; o classudo Didi, Zagallo, o Formiguinha; Amarildo,
o Possesso; o Gérson, o Canhotinha. Claro, claro, Garrincha, a Alegria do Povo –
talvez, o maior ídolo do futebol brasileiro.
O Vasco teve Almir, o Pernambuquinho; Belline; Barbosa, o goleiro sacrificado
pela Copa de 50; Andrada, que levou o milésimo gol de Pelé; Domingos da guia, o
zagueiro elegante; Edmundo, o Animal; Ademir Menezes, o Queixada; Roberto
Dinamite, o Artilheiro; Romário, o maior Baixinho do Mundo; Vavá, o Peito de
Aço.
O Atlético Mineiro teve Kafunga, um dos mais longevos goleiros do futebol
brasileiro; Dadá Maravilha, o Beija Flor; Reinaldo, o Rei.
No Cruzeiro, Procópio, zagueiro de fino trato; Piazza; Dirceu Lopes; Tostão,
acredito eu, o maior de todos; Ronaldinho, que o mundo conheceria, mais tarde,
como Fenômeno; Raul, o goleiro da camisa amarela.
No Inter, Falcão; Carpegiani; Figueiroa, um baita de um zagueiro; Taffarel;
Manga, outro grande goleiro; Chinesinho, um craque.
No rival Grêmio, o centroavante Alcindo nunca é esquecido; como também o zagueiro Hugo
de Leon; o lateral esquerdo Everaldo, razão da primeira estrela na camisa do
Grêmio; Calvet; Ronaldinho Gaúcho, talvez a maior revelação do Clube.
No Bahia, sem dúvida alguma, o maior ídolo é Bobô.
Já o Vitória faz questão sempre de homenagear, Dida, Vampeta e Bebeto que nasceram lá
e chegaram à Seleção Brasileira.
Os torcedores
do Timbu se remetem aos anos 1930 para lembrar Fernando Cavalheira, grande
ídolo do Náutico. Por falar em ídolo, o clube está de luto com a morte
de Lala, ocorrida no mês passado, aos 69 anos de idade. O ex-atacante disputou 94 jogos da campanha do Timbu
no hexacampeonato pernambucano e marcou 24 gols nos seis campeonatos, de 1960 a
1968.
O Santa Cruz rende
homenagem a Nunes ali revelado e que chegou à Seleção brasileira depois de
brilhar no Flamengo; Rivaldo, também prata da casa; Ramón, que foi artilheiro
do Brasileirão de 1973.
O Sport homenageia
sempre dois grandes goleadores, ídolos nacionais: Ademir Menezes e Vavá, ambos
revelados em suas categorias de base. Também o goleirão Manga e Juninho
Pernambucano que se tornou ídolo do Vasco e do Paris Saint-Germain.
Enfim, a lista é interminável.
Poderia lembrar também os intermináveis Zé
Roberto (40, Palmeiras); Dimba, 41, Goiás; Magno Alves, 39 anos, Fluminense;
Amaral, 42 anos ex-Palmeiras, agora no Capivariano-SP; Viola, 46, Taboão da Serra;
Marcelinho Paraíba, 40 anos, Joinville, Muller, 49 anos, no Fernandópolis-SP;
Túlio Maravilha, 46 anos, que começou a carreira ainda moleque no Goiás e hoje,
depois de passar por 39 times, entre idas e vindas, defende o Atibaia-SP.
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