Demorou,
mas, finalmente, a polícia entra no campo do futebol.
Com a prisão
de sete dirigentes da Fifa em Zurique, abrem-se as portas da imensa e robusta
caixa preta que é a Fifa.
Sabe-se, há
muito, que o mundo do futebol é cheio de escorregadios meandros financeiros. Tão escorregadios que sempre escapavam. Assim
como no Brasil sempre se soube da roubalheira na política, até que a operação
Lava Jato começou a colocar pessoas famosas na cadeia.
O esquema
chegou à Fifa.
Em 1974, a Fifa
fazia parte de um mundo pequeno, tinha uma pequena e modesta sede em Zurique.
Foi quando João Havelange assumiu a presidência.
Ao deixá-la,
em 1998, substituído pelo atual presidente Joseph Blatter, a Fifa havia se
transformado numa grande potência, com orçamento bilionário e com a
participação de 209 países. Mais membros do que a própria Onu.
Pouco anos
depois, começaram a pipocar os escândalos.
Uma grande
empresa internacional de marketing esportivo, a ISL, foi à falência e soube-se
então que havia um rombo de US$ 122 milhões que foram gastos em suborno. Parte
dessa imensa verba foi gasta na venda dos direitos de televisão para as Copas
do Mundo de 2002 e 2006.
Foi quando o
escândalo chegou ao Brasil, atingindo João Havelange e seu ex-genro Ricardo Teixeira.
Havia sobre
os dois a acusação de apropriação indevida de cerca de US$ 20 milhões. Terminou
tudo numa pizza que custou dois milhões e meio de dólares, devolvidos pela
dupla.
E mais: João
Havelange, então presidente de honra da Fifa, pediu afastamento do cargo e o
mesmo aconteceu com seu ex-genro, Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, que
não só se afastou como se mandou do país e foi morar nos Estados Unidos.
A CBF,
então, como se sabe passou às mãos e José Maria Marin, agora preso na Suíça, e que
foi substituído há cerca de um mês por Marco Polo Del Nero, ex-presidente da
Federação Paulista de Futebol.
De acordo
com o noticiário, não há nada contra Marco Polo.
Assim como a
Fifa, a CBF era uma entidade pequena com acanhada sede num desconfortável
prédio no rio de Janeiro
A nova sede,
luxuosa e milionária na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, custou o
total de 100 milhões de reais, que teriam sido divididos em 70 milhões para
compra d terreno e 30 milhões para a reconstrução do prédio.
Na época, cerca
de um ano, houve denúncias de superfaturamento. Segundo reportagem da Folha de
S. Paulo, o imóvel era avaliado em cerca de R$ 39 milhões.
Nada foi
investigado.
Outro
brasileiro envolvido pelas teias da Lava Jato esportiva é o ex-jornalista e
empresário J. Hawilla.
Ex-repórter
de campo e mais tarde apresentador de programas esportivos da TV Globo, Hawilla
passou a se dedicar ao marketing esportivo, explorando profissionalmente as
placas de publicidade nos campos de futebol.
A Traffic,
sua empresa, levou para a CBF o primeiro patrocínio profissional da entidade em
1989: a Pepsi-Cola.
Anos depois,
Hawilla levou a Nike para a CBF num contrato milionário e polêmico que foi alvo
de uma CPI no ano 2000. A CPI não apurou nada contra Hawilla e sua empresa.
Durante
muitos anos, a Traffic comandou, comercialmente, o futebol sul-americano com
livre trânsito na Conmebol, também na Concacaf (entidade que comanda o futebol
na América Central e do Norte), além de ter parceiros comerciais em quase todas
as partes do mundo.
No ano 2000,
foi a Traffic que organizou o primeiro Campeonato Mundial de Clubes da Fifa,
disputado no Brasil, e que teve o Corinthians como campeão.
Enfim, a
empresa que começou vendendo placas em pontos de ônibus, depois em estádios
tornou-se uma potência.
E foi
exatamente J. Hawilla quem detonou o esquema da Fifa.
Investigado
desde o ano passado pela Justiça norte-americana, Hawilla assinou um acordo de
delação premiada e passou as informações ao FBI.
Nesse
acordo, Hawilla se comprometeu a devolver U$S 150 milhões ao Tesouro Norte-americano
(Já devolveu US$ 25 milhões) e se declarou culpado das acusações de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro.
Assim como na operação Lava Jato, muita sujeira ainda
vai aparecer.
Dirigentes
Detidos na Suíça
José Maria Marin - Ex-presidente da CBF e membro do comitê organizador do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 2016.
Jeffrey Webb - Vice-presidente da Fifa e membro do comitê executivo, presidente da Concacaf e presidente da Associação de Futebol das Ilhas Cayman.
Eduardo Li - Membro do comitê executivo da Fifa e presidente da Federação de Futebol da Costa Rica.
Julio Rocha - Integrante do comitê de desenvolvimento da Fifa. Presidente da Federação de Futebol da Nicarágua.
Costas Takkas - Assessor da presidência da Concacaf.
Eugenio Figueredo - Vice-presidente da Fifa e membro do comitê executivo da entidade. Ex-presidente da Conmebol e da Federação de Futebol do Uruguai.
Rafael Esquivel - Membro do comitê executivo da Conmebol e presidente da Federação de Futebol da Venezuela.
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