sexta-feira, 29 de maio de 2015

É preciso também ouvir as vozes dos aviões


A bela Marina Mantega, competente apresentadora de programa, e que carrega o pesado sobrenome do pai, saiu em defesa do ex-ministro da Fazenda dos governos petistas que tem sido alvo de manifestações por onde passa.

Manifestações contrárias, claro.

Primeiro foi no hospital Albert Einstein e segundo no restaurante Aguzzo.

Segundo ela, quem vaia o ex-ministro Guido Mantega não entende nada de economia.

Nada mais lógico que a filha defender o pai.

A isto dá-se o nome de amor incondicional.

O pai defenderia a filha da mesma forma.

Não fique assim tão brava, Marina, porque essas manifestações acontecem e ainda vão acontecer. É claro que seria melhor receber aplausos.

Mas é só dar uma olhada nos números da economia e cair na real: não são números que mereçam aplausos.

Tanto assim, que o novo velho governo da Dilma, a Reclusa, tenta fazer mágicas e, sem o menor pudor, mete a mão nos direitos trabalhistas para equilibrar as contas que ela, Dilma, e seu pai, o Mantega, levaram ao patamar caótico de hoje.

Caso sirva de consolo, veja esta história.

No começo da década de 90, o ex-governador de Minas Gerais, Newton Cardoso, almoçava com a família em um luxuoso restaurante de Belo Horizonte, quando foi identificado por outros frequentadores.

Newtão (ou Trator como também gostava de ser chamado) havia deixado o cargo há poucos dias. Identificado, passou a ser hostilizado.

As vaias foram ouvidas nas ruas e logo o restaurante foi cercado por populares.

Newtão, entre outras façanhas de seu governo, havia quebrado a Minascaixa, tão cara aos mineiros.

As vaias foram ficando cada vez mais fortes, gritos de ladrão, pega ladrão, palavrões até que o dono do restaurante, temendo e prevendo o que iria acontecer, chamou a polícia.

Newtão e família tiveram que sair sob forte escolta, ouvindo retumbantes vaias e palavras não muito agradáveis.

Mas os gritos não acontecem apenas nas ruas.

Mantega ouviu protestos em lugares finos: o Einstein e o restaurante Aguzzo, que em italiano quer dizer arguto, perspicaz, esperto onde Mantega pode ter saboreado um excelente Gamberi in salsa di prosecco e risotto di asparagi ou, em português para nós míseros mortais: Camarão em um de prosecco e risoto de aspargo.

Mas os petistas e simpatizantes não estão livres nem mesmo quando dentro de cabines pressurizadas em jatos que singram nossos ares.

Os passageiros já estão em pé quando um deles é identificado como petista e começam as provocações, os gritos de fora Dilma, fora PT e outros.

Não há palavrões, não há agressões, mas há a certeza de que os petistas estão se sentindo cada vez mais desconfortáveis.

Assim como os fumantes que hoje já não encontram mais o espaço e paz de outrora. 
 

 
 
 


 

 

 

 

quinta-feira, 28 de maio de 2015

A Copa do Mundo de 2014 deve ser investigada?


Pipocam os pedidos de investigações após as prisões na Suíça.

 
O futebol mundial vive o seu momento mais escandaloso e delicado em mais de 120 anos de competições organizadas.

Sem dúvida alguma também a maior oportunidade de passar sua história a limpo e garantir um futuro mais transparente, mais honesto e evitar que essa sujeira de fora entre em campo.

Não que dentro de campo ande tudo às mil maravilhas, já que volta e meia são descobertas maracutaias em torno de resultados de jogos.

Mas as investigações não podem ser apenas oportunistas.

Romário, hoje senador e que foi um dos mais ativos deputados federais na legislação passada, já conseguiu o número de assinaturas necessárias para a instalação de uma CPI que se propõe a investigar a CBF, seus patrocinadores, realização de jogos da Seleção Brasileira, as copas da Confederação e do Mundo realizadas aqui no Brasil.

É oportuno, como disse acima, que se abram investigações.

As CPIs, infelizmente, pelo seu passado, não recomendam. Tornam-se palcos, vitrines para políticos aparecerem na mídia e, mostra a história, terminam em pizza.

Lembro-me da CPI instalada em 2000 para apurar possíveis irregularidades nas relações da Nike com a CBF. Foi rumorosa, pois ainda estávamos sob o impacto da perda da Copa de 1998, na França, e a convulsão do Ronaldo, Fenômeno, minutos antes da final.

Zagallo foi chamado a prestar depoimento e um deputado insistiu em perguntar-lhe quem era o encarregado de marcar Zidane que marcou dois gols de cabeça na nossa derrota por 3 a 0.

Mas, isso é assunto para se discutido numa CPI?

O fato de o Brasil ter sido escolhido como sede não me parece ter a menor importância para uma investigação.

Afinal, a escolha, em 2007, era óbvia: o Brasil foi o único país que se inscreveu, numa época em que a Fifa fazia rodízio de continente. Era a vez da América e nada mais natural que o escolhido fosse o Brasil.

As construções de estádios, obras de infraestrutura prometidas e nunca acabadas – algumas nem saíram do papel -, possíveis superfaturamentos esses sim são assuntos que devem ser investigados.

Assim como a relação pessoal de cartolas com patrocinadores, enriquecimentos pouco transparentes ou até inexplicáveis, mordomias em troca de votos – tudo isso deve ser passado a limpo.

Como o exemplo vem de cima, o futebol em campo deveria se espelhar na honestidade de seus dirigentes.

É o que acontece também na vida dos cidadãos brasileiros: que tal passar a política a limpo para que possamos mirar nesse espelho?

É possível?


Leia:


 

 

 

 

 

quarta-feira, 27 de maio de 2015

Cadeia neles!


 

 

Demorou, mas, finalmente, a polícia entra no campo do futebol.

 

Com a prisão de sete dirigentes da Fifa em Zurique, abrem-se as portas da imensa e robusta caixa preta que é a Fifa.

Sabe-se, há muito, que o mundo do futebol é cheio de escorregadios meandros financeiros.  Tão escorregadios que sempre escapavam. Assim como no Brasil sempre se soube da roubalheira na política, até que a operação Lava Jato começou a colocar pessoas famosas na cadeia.

O esquema chegou à Fifa.

Em 1974, a Fifa fazia parte de um mundo pequeno, tinha uma pequena e modesta sede em Zurique. Foi quando João Havelange assumiu a presidência.

Ao deixá-la, em 1998, substituído pelo atual presidente Joseph Blatter, a Fifa havia se transformado numa grande potência, com orçamento bilionário e com a participação de 209 países. Mais membros do que a própria Onu.

Pouco anos depois, começaram a pipocar os escândalos.

Uma grande empresa internacional de marketing esportivo, a ISL, foi à falência e soube-se então que havia um rombo de US$ 122 milhões que foram gastos em suborno. Parte dessa imensa verba foi gasta na venda dos direitos de televisão para as Copas do Mundo de 2002 e 2006.

Foi quando o escândalo chegou ao Brasil, atingindo João Havelange e seu ex-genro Ricardo Teixeira.

Havia sobre os dois a acusação de apropriação indevida de cerca de US$ 20 milhões. Terminou tudo numa pizza que custou dois milhões e meio de dólares, devolvidos pela dupla.

E mais: João Havelange, então presidente de honra da Fifa, pediu afastamento do cargo e o mesmo aconteceu com seu ex-genro, Ricardo Teixeira, então presidente da CBF, que não só se afastou como se mandou do país e foi morar nos Estados Unidos.

A CBF, então, como se sabe passou às mãos e José Maria Marin, agora preso na Suíça, e que foi substituído há cerca de um mês por Marco Polo Del Nero, ex-presidente da Federação Paulista de Futebol.

De acordo com o noticiário, não há nada contra Marco Polo.

Assim como a Fifa, a CBF era uma entidade pequena com acanhada sede num desconfortável prédio no rio de Janeiro

A nova sede, luxuosa e milionária na Barra da Tijuca, Zona Oeste do Rio de Janeiro, custou o total de 100 milhões de reais, que teriam sido divididos em 70 milhões para compra d terreno e 30 milhões para a reconstrução do prédio.

Na época, cerca de um ano, houve denúncias de superfaturamento. Segundo reportagem da Folha de S. Paulo, o imóvel era avaliado em cerca de R$ 39 milhões.

Nada foi investigado.

Outro brasileiro envolvido pelas teias da Lava Jato esportiva é o ex-jornalista e empresário J. Hawilla.

Ex-repórter de campo e mais tarde apresentador de programas esportivos da TV Globo, Hawilla passou a se dedicar ao marketing esportivo, explorando profissionalmente as placas de publicidade nos campos de futebol.

A Traffic, sua empresa, levou para a CBF o primeiro patrocínio profissional da entidade em 1989: a Pepsi-Cola.

Anos depois, Hawilla levou a Nike para a CBF num contrato milionário e polêmico que foi alvo de uma CPI no ano 2000. A CPI não apurou nada contra Hawilla e sua empresa.

Durante muitos anos, a Traffic comandou, comercialmente, o futebol sul-americano com livre trânsito na Conmebol, também na Concacaf (entidade que comanda o futebol na América Central e do Norte), além de ter parceiros comerciais em quase todas as partes do mundo.

No ano 2000, foi a Traffic que organizou o primeiro Campeonato Mundial de Clubes da Fifa, disputado no Brasil, e que teve o Corinthians como campeão.

Enfim, a empresa que começou vendendo placas em pontos de ônibus, depois em estádios tornou-se uma potência.

E foi exatamente J. Hawilla quem detonou o esquema da Fifa.

Investigado desde o ano passado pela Justiça norte-americana, Hawilla assinou um acordo de delação premiada e passou as informações ao FBI.

Nesse acordo, Hawilla se comprometeu a devolver U$S 150 milhões ao Tesouro Norte-americano (Já devolveu US$ 25 milhões) e se declarou culpado das acusações de extorsão, fraude e lavagem de dinheiro.

Assim como na operação Lava Jato, muita sujeira ainda vai aparecer.

Dirigentes

Detidos na Suíça

 

José Maria Marin - Ex-presidente da CBF e membro do comitê organizador do torneio de futebol dos Jogos Olímpicos de 2016.

Jeffrey Webb - Vice-presidente da Fifa e membro do comitê executivo, presidente da Concacaf e presidente da Associação de Futebol das Ilhas Cayman.

Eduardo Li - Membro do comitê executivo da Fifa e presidente da Federação de Futebol da Costa Rica.

Julio Rocha - Integrante do comitê de desenvolvimento da Fifa. Presidente da Federação de Futebol da Nicarágua.

Costas Takkas - Assessor da presidência da Concacaf.

Eugenio Figueredo - Vice-presidente da Fifa e membro do comitê executivo da entidade. Ex-presidente da Conmebol e da Federação de Futebol do Uruguai.

Rafael Esquivel - Membro do comitê executivo da Conmebol e presidente da Federação de Futebol da Venezuela.

 

 

segunda-feira, 25 de maio de 2015

Morno e amarelo


Assisti ao modorrento e horrível jogo entre Fluminense e Corinthians pela televisão, ao lado do meu neto, o corintianíssimo Vinicius, de 12 anos.
Logo nas primeiras imagens, ele me perguntou:
- Ô Vô, por que o Maracanã está tão vazio?
Expliquei que era começo de campeonato, que ainda não havia muito interesse... Ele me interrompeu.
- Vô, não tem interesse? O Corinthians tá completo, o Fluminense também. Eles não estão na Libertadores, então, tem que ter interesse.
Bom, não dá para discutir com o baixinho.
Mas, apesar de todo o seu corintianismo, o Vinicius alternou a televisão com o seu game. Aliás, a televisão ao mostrar o Rivelino nas arquibancadas, mostrou também atrás dele um torcedor mais interessado no celular do que no jogo.
A verdade é essa mesmo. O campeonato está no começo e ainda não pegou.
Mas, se depender do futebol mostrado nessa terceira rodada em, praticamente, todos os jogos, ainda via demorar a pegar.
Até o tão decantado Cruzeiro, arrasador no ano passado, só conseguiu o seu primeiro ponto neste Brasileirão no empate com a Ponte Preta, ontem, no Mineirão e está lá em baixo na tabela.
Mas, na ponta de cima, a situação também é ruim: Sport, Goiás e Corinthians têm o mesmo número de jogos, 3, e o mesmo número de pontos ganhos: 7.
O Sport fez 3 jogos e marcou 7 gols (boa média); o Goiás em três jogos marcou três gols (média fraca); o Corinthians, nos mesmos três jogos, marcou apenas dois gols (média horrível).
A situação para os corintianos não é nada alvissareira.
Guerreiro, o grande artilheiro do time, deverá fazer seu último jogo com a camisa corintiana nesta semana. Depois, se apresenta à Seleção peruana que disputará a Copa América e não volta mais.
Sheik, também artilheiro, mas muito mais polêmico, também vai embora no meio do ano.
Assim, o Corinthians que pintou como o grande time do Brasil no começo de temporada, vai se desfazendo. E a crise financeira aponta para um futuro sofredor.

Os cartões
de todas as cores

No começo do Brasileirão do ano passado, discutiu-se muito a nova orientação quanto à bola ao critério de bola na mão e de mão na bola.
O desencontro na aplicação de tal orientação desencadeou um número recorde de pênaltis por causa do polêmico encontro da bola com a mão.
Este ano a polêmica são os cartões.
A orientação recebida pelos juízes é tolerância zero quanto às reclamações. Reclamou? Leva o amarelo.
Em princípio, isso é muito bom.
Nossos jogadores fantasiam demais. Qualquer entrada um pouco mais dura, o atingido cai, rola por centenas de metros e finge o sofrimento de semanas na UTI.
Daí, os outros companheiros partem pra cima do juiz e logo se forma um bolo em torno do homem do apito.
Isso é preciso acabar mesmo.
O espetáculo que os atletas devem dar é outro, não esse péssimo teatro.
Mas também os juízes não precisam se mostrar tão autoritários, tão ditatórias como tem acontecido nessas primeiras rodadas.
No jogo entre Atlético PR e Atlético Mineiro, o juiz Thiago Duarte Peixoto roubou o espetáculo com duas tremendas mancadas.
Primeira – Douglas Coutinho marcou o gol do Atlético PR e correu para a torcida. Um momento muito legal. Foi abraçado e abraçou os torcedores. Quando voltou ao campo, levou cartão amarelo. O juiz foi orientado para coibir o excesso nas comemorações, está certo. Mas é preciso que haja bom senso. Não me parece que ali tenha havido exagero.
Segunda – Agora, sim, houve exagero. O juiz apontou para o Douglas Coutinho, depois para o chão, a seus pés, mostrando que o jogador tinha que ir até ali para ser punido. Coisa de mãe pirracenta.
O juiz lembrou os piores momentos de exibicionismo autoritário de Armando Marques que parecia chegar ao orgasmo quando obrigava o jogador a ficar aos seus pés para ouvir tremenda esculhambação, numa época em que ainda não se usavam os cartões.
Já a expulsão do gordinho Valter parece que foi justa, a julgar pelo que o juiz escreveu na súmula. Veja e complete os pontinhos:
(Falando primeiro com o auxiliar)"Você não viu a falta, está fazendo o que aí? Não serve para nada, vai tomar no seu c...", foram as palavras ditas por Walter relatadas na súmula eletrônica disponível no site da CBF.
E as ofensas, segundo a súmula, não pararam por aí. O próprio árbitro também afirmou ter sido alvo do atacante, com os seguintes dizeres: "C..., p..., o que você está fazendo? Que marra do c..., apita essa p..., você apitou onde?".


segunda-feira, 18 de maio de 2015

Itaquerão, um ano.



Inaugurado em 18 de maio de 2014, a tão sonhada casa dos corintianos chega a um ano.

Ao contrário do que esperavam os corintianos, não há um clima festivo nesta data querida.

Com muitas dívidas, um elenco colocado em dúvida pelos torcedores, mau momento técnico e recente eliminação da Libertadores não permitem que a data seja comemorada festivamente.

O maior público do novo estádio foi da Copa do Mundo, dia 23 de junho, Países Baixos 2 x Chile 0, 62.996. Naquela época, para satisfazer exigências da Fifa, o estádio tinha capacidade para 63 mil pagantes, graças às arquibancadas provisórias que foram removidas após a Copa.

A capacidade atual total é de 48.234 torcedores.

O maior público pagante pós-Copa foi no jogo contra o San Lorenzo, pela Libertadores, 40.744 pagantes, em abril deste ano. Pelo campeonato paulista, o recorde foi de 38.457 pagantes, no empate com o Palmeiras, 2 a 2, que valeu a eliminação do Timão no Paulistão.

O custo total da construção é de R$ 1,15 bilhão.

A partir de setembro, o Corinthians passa a pagar R$ 5 milhões mensais ao BNDES pelo empréstimo de R$ 400 milhões. O total da dívida será pago em 12 anos.

Aparentemente, o pagamento desse empréstimo está sob controle: as rendas dos jogos no Itaquerão têm sido colocadas numa conta especial exatamente para esse fim.

A ideia é que o próprio estádio se pague.

Para isso, entretanto, é preciso que o time tenha uma boa campanha para incentivar o torcedor a comparecer. A eliminação precoce da Libertadores causou um prejuízo financeiro estimado em R$ 20 milhões pelos dirigentes corintianos.

A Prefeitura de São Paulo deu ao Corinthians R$ 420 milhões em forma de incentivos fiscais. Porém, a venda desses títulos tem sido um fracasso, graças a uma ação movida pelo Ministério Público questionando a validade dos incentivos.

Esse problema levou Corinthians e Odebrecht a contraírem um empréstimo de R$ 250 milhões para acabar as obras a tempo da abertura da Copa do Mundo.

O maior problema até agora foi não ter conseguido ter conseguido patrocinador para o nome do estádio.

Eu me lembro que um ano antes da inauguração do estádio, numa conversa com o então presidente André Sanches, perguntei-lhe se ele não se preocupava com o fato de o estádio estar sendo chamado de Itaquerão.

- Se o apelido pegar, a venda do nome pode ser prejudicada?, perguntei-lhe.

Demonstrando muita confiança – talvez excessiva – Sanches me respondeu.

- Isso não será problema. Já fiz um acordo com a Globo e ela vai sempre dizer o nome do patrocinador. Além de dar retorno, se a Globo usar o nome oficial, todo mundo vai atrás.

Mas, até hoje não foi encontrado quem pague os R$ 400 milhões pedidos pelo Corinthians para um contrato de 20 anos.

Também as vendas de camarotes, cadeiras cativas e lojas se arrastam no mesmo ritmo lento que o time mostra em campo.