Avenida Morumbi Sem Número
Era ainda
criança lá em Belo Horizonte e já ouvia falar no São Paulo Futebol Clube e na
minha cabeça ficaram marcadas duas verdades sobre o São Paulo: uma era sua
histórica linha média de Rui, Bauer e Noronha; a outra é de que se tratava de
um time de elite, de gente fina.
Eu morava na
periferia de Belo Horizonte e ficava imaginando o que seria um time de elite.
Muitos anos
depois, já sabendo o que era um time de elite, mudei-me para São Paulo
convidado para trabalhar no Jornal da Tarde.
Tive oportunidade,
então, de conhecer de perto e por dentro o que era um time de elite.
Sim, assim
era o São Paulo.
Os dirigentes
mais importantes eram chamados de cardeais. Não se discutia crise financeira no
clube, embora o Morumbi, ainda inacabado, consumisse toda a verba do futebol.
Não havia dinheiro para comprar craques.
Ainda assim,
o Tricolor abusou e contratou dois de uma só vez: Gerson e Toninho Guerreiro.
Gerson, o craque
botafoguense, o Canhotinha da Seleção Brasileira seria o novo cérebro do time;
Toninho Guerreiro, o artilheiro do Santos, seria o goleador.
Na estreia dos
dois, o Tricolor levou goleada de 5 a 2 do Atlético Mineiro, em pleno Morumbi.
Eu estava lá.
Como time de
alto nível que se prezava, não houve crise. Técnico do São Paulo não era
demitido assim-assim. Por isso, Diede Lameiro voltou para casa, em São José dos
Campos, tranquilo. A oposição mantinha respeitoso silêncio.
Aquele era
um time de elite.
O mundo
mudou. O São Paulo também.
Naquela
época, brigas, desentendimentos eram muito comuns no Corinthians Por isso,
quando se referiam ao Timão, muita gente falava “o time da Marginal Sem número”.
Na manhã
dessa terça-feira, fico sabendo que uma reunião de diretoria do São Paulo na
noite de segunda-feira terminou em sonora pancadaria.
O Vice
presidente, Ataíde Gil Guerreiro, talvez para fazer jus ao nome, partiu para
cima do presidente Miguel Aidar e o derrubou com um soco. Como dois garotos de
grupo, rolaram pelo chão sob as vistas de outros incrédulos diretores e
apavorados hóspedes do hotel onde se deu a pugna.
O São Paulo
mudou.
O presidente
elegeu o seu sucessor. Normal. O sucessor brigou com o antecessor e o colocou
para fora. E a briga foi pública, através da imprensa.
Já não é
normal para o modo de vida da elite.
De repente,
o Tricolor está devendo uma grana preta. Um déficit assustador.
Nem na época
da construção do Morumbi se deveu tanto. Ou se deveu, ninguém ficou sabendo
porque esse tipo de notícia não atravessava as arquibancadas do Estádio Cícero
Pompeu de Toledo.
Reunião do
São Paulo, que sempre começou com elegantes brindes terminava em afáveis
abraços.
Hoje termina
em troca de porradas.
É, o São
Paulo mudou.
Talvez seja
o clube da Avenida Morumbi Sem número.

Recebi do amigo Luiz Carlos Secco, grande companheiro dos bons tempos do JT, o comentário que se segue.
ResponderExcluirCaro amigo Marinho:
Boa-tarde!
Beleza esse comentário sobre a história e a situação atual do São Paulo.
Gostei muito das referências com o Corinthians do passado.
Era isso, mesmo.
Mas, naquele tempo, tínhamos Laudo Natel, Manoel Raimundo Paes de almeida e outras figuradas imponentes.
Agora, o nível está diferente.
Por favor, receba e transmita à sua esposa as minhas condolências em relação ao falecimento do Franklin.
Não me lembro dele.
Abraços
Luiz Carlos Secco