terça-feira, 6 de outubro de 2015



Avenida Morumbi Sem Número

 

Era ainda criança lá em Belo Horizonte e já ouvia falar no São Paulo Futebol Clube e na minha cabeça ficaram marcadas duas verdades sobre o São Paulo: uma era sua histórica linha média de Rui, Bauer e Noronha; a outra é de que se tratava de um time de elite, de gente fina.

Eu morava na periferia de Belo Horizonte e ficava imaginando o que seria um time de elite.

Muitos anos depois, já sabendo o que era um time de elite, mudei-me para São Paulo convidado para trabalhar no Jornal da Tarde.

Tive oportunidade, então, de conhecer de perto e por dentro o que era um time de elite.

Sim, assim era o São Paulo.

Os dirigentes mais importantes eram chamados de cardeais. Não se discutia crise financeira no clube, embora o Morumbi, ainda inacabado, consumisse toda a verba do futebol. Não havia dinheiro para comprar craques.

Ainda assim, o Tricolor abusou e contratou dois de uma só vez: Gerson e Toninho Guerreiro.

Gerson, o craque botafoguense, o Canhotinha da Seleção Brasileira seria o novo cérebro do time; Toninho Guerreiro, o artilheiro do Santos, seria o goleador.

Na estreia dos dois, o Tricolor levou goleada de 5 a 2 do Atlético Mineiro, em pleno Morumbi. Eu estava lá.

Como time de alto nível que se prezava, não houve crise. Técnico do São Paulo não era demitido assim-assim. Por isso, Diede Lameiro voltou para casa, em São José dos Campos, tranquilo. A oposição mantinha respeitoso silêncio.

Aquele era um time de elite.

O mundo mudou. O São Paulo também.

Naquela época, brigas, desentendimentos eram muito comuns no Corinthians Por isso, quando se referiam ao Timão, muita gente falava “o time da Marginal Sem número”.

Na manhã dessa terça-feira, fico sabendo que uma reunião de diretoria do São Paulo na noite de segunda-feira terminou em sonora pancadaria.

O Vice presidente, Ataíde Gil Guerreiro, talvez para fazer jus ao nome, partiu para cima do presidente Miguel Aidar e o derrubou com um soco. Como dois garotos de grupo, rolaram pelo chão sob as vistas de outros incrédulos diretores e apavorados hóspedes do hotel onde se deu a pugna.

O São Paulo mudou.

O presidente elegeu o seu sucessor. Normal. O sucessor brigou com o antecessor e o colocou para fora. E a briga foi pública, através da imprensa.

Já não é normal para o modo de vida da elite.

De repente, o Tricolor está devendo uma grana preta. Um déficit assustador.

Nem na época da construção do Morumbi se deveu tanto. Ou se deveu, ninguém ficou sabendo porque esse tipo de notícia não atravessava as arquibancadas do Estádio Cícero Pompeu de Toledo.

Reunião do São Paulo, que sempre começou com elegantes brindes terminava em afáveis abraços.

Hoje termina em troca de porradas.

É, o São Paulo mudou.

Talvez seja o clube da Avenida Morumbi Sem número.

 

Um comentário:

  1. Recebi do amigo Luiz Carlos Secco, grande companheiro dos bons tempos do JT, o comentário que se segue.

    Caro amigo Marinho:

    Boa-tarde!

    Beleza esse comentário sobre a história e a situação atual do São Paulo.

    Gostei muito das referências com o Corinthians do passado.

    Era isso, mesmo.

    Mas, naquele tempo, tínhamos Laudo Natel, Manoel Raimundo Paes de almeida e outras figuradas imponentes.

    Agora, o nível está diferente.

    Por favor, receba e transmita à sua esposa as minhas condolências em relação ao falecimento do Franklin.

    Não me lembro dele.

    Abraços

    Luiz Carlos Secco

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