terça-feira, 25 de agosto de 2015


À esquerda, Amaury Castro, volante que defendeu o Cruzeiro de 1957 a 1960 (morreu aos 79 anos em 2012); ao centro Cidinho Bola Nossa e à direita jogador que não consegui identificar mas que, pela  camisa, parece ser do Siderúrgica.


Caiu em Itaquera,

O juiz coopera.

 

A singela, mas elegante rima do título que, aliás, traz rica e criativa metáfora, é de autoria atleticano-jornalista-escritor-contista-cronista-empresário Gilberto Mansur e me foi enviada a respeito do meu último blog, que dediquei mais à beleza e conforto da Arena Corinthians do que à tranquila vitória corintiana sobre o Cruzeiro.

Não que o Mansur tenha ficado triste com a derrota do Cruzeiro. Looonge disso!

O também jornalista e pioneiro no marketing político do Brasil, Chico Santa Rita (que acaba de lançar o livro “De como Marina e Aécio ajudaram a eleger Dilma” (160 páginas, R$ 34,90), palmeirense, aproveitou para responder ao amigo Gilberto Mansur:

Caiu no Mineirão,

O juiz mete a mão.

Santa Rita está se referindo ao pênalti cabeludo que o juiz deu a favor do Atlético no jogo contra o Palmeiras, no último domingo.

A rima é boa também, só que o jogo foi no Horto e não no Mineirão.

Talvez a rima possa ser ampliada:

 

Caiu no Horto

Ou no Mineirão,

O juiz mete mão.

 

O certo é que se o futebol em si já mexe com todo mundo, arbitragem então nem se fala.

Eu parto do princípio que o juiz é honesto.

Ele erra por que é humano.

Assim como erra o centroavante goleador que perde gol feito; o grande goleiro que toma um frango; o médico que amputa a perna errada; o jornalista que aponta o grande favorito para o jogo do dia seguinte e o grande favorito perde de cinco; assim como um Brasil que perde por 7 a 1 para a Alemanha.

Não que o juiz pertença a uma casta de virgens imaculadas que jamais conheceram o erro. Até porque o santo, só é santo depois que morre.

Mas o juiz não pode competir com dezenas de câmeras de televisão que olham como se tivessem mil olhos e repetem os erros à exaustão. É tanta repetição que chega um momento que aquele errinho difícil de encontrar, passa a  parecer um grande escândalo.

Não se pode negar, também, que a maioria dos erros favorecem o time grande. Na maioria das vezes, os times de casa e, daí, a origem dos juízes caseiros.

Eu nunca vi um juiz “roubar” a favor do meu América. Não que sejamos um time pequeno. Afinal, a nata de Minas torce pelo América. Não temos culpa se na terra do queijo a nata é pequena.

Há sempre um juiz roubando para alguém.

Aqui em São Paulo conta-se que antigamente, naquele tempo em que os grandes roubos se limitavam a pênaltis não marcados, um determinado juiz, devidamente comprado, assinalou um pênalti não existente a favor de seu “patrão”.

O batedor do pênalti errou e o juiz mandou repetir. Ele errou novamente. O juiz mandou repetir e só então ele marcou para alívio do homem de preto que pôde respirar aliviado e receber sua grana. O pixuleco da época.

O juiz mineiro Joaquim Gonçalves carregou o apelido de Qim-quim Carijó em alusão ao Galo; José de Assis Aragão, paulista que apitou uma temporada no futebol mineiro, recebeu o apelido de Aragalo.

Mas ninguém foi tão famoso quanto Alcebíades Magalhães Dias, o juiz atleticano apelidado de Cidinho Bola Nossa.

E por que o apelido Bola Nossa? O próprio Cidinho contou milhares de vezes:

- Atlético e Botafogo do Rio jogavam na inauguração do estádio do Cruzeiro em 1949. Afonso e Santo Cristo disputavam a bola para saber de quem era o lateral. Quando o beque do Atlético me perguntou de quem era a bola, deixei escapar uma frase que me acompanhou para o resto da vida – É nossa, Afonso, a bola é nossa".

Ouvi, certa vez, o relato de Kafunga, histórico goleiro do Atlético e do futebol Mineiro que, após deixar as chuteiras, tornou-se comentarista de rádio.

Segundo Kafunga, o Atlético enfrentou o Corinthians no Pacaembu, em jogo amistoso, e Cidinho era o juiz (explica-se: na época, os times que viajavam levavam o seu juiz). Jogo duro, mas o Galo conseguiu fazer 1 a 0.

Kafunga, goleiro malandro, começou a fazer cera, retendo a bola. A torcida vaiava, xingava, gritava. Os jogadores do Corinthians cercaram o franzino Cidinho, exigindo providências.

Cidinho tirou um pique do meio do campo até o gol onde estava Kafunga e com gestos exagerados, como se tivesse dando a maior bronca do mundo, gritou par ao goleiro:

- Pode fazer cera, pode fazer cera que eu não vou descontar nada!

Cidinho foi aplaudido pela torcida e o Galo ganhou por 1 a 0.

Ao terminar a sua carreira de juiz, Cidinho candidatou-se a vereador. Seus cartazes de propaganda eram mais ou menos assim:

 

Para Vereador

Alcebíades Magalhães Dias

O Cidinho Bola Nossa

 O marketing político em ação, muitos anos antes de Chico Santa Rita.

Claro, foi eleito.
A proveito o carreto e mostro também o meu livro:
www.martinsfontespaulista.com.br
 
O novo livro de Chico Santa Rita e Fernanda Zuccaro



 
 

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